A desconfiança em relação à imunização é antiga, mas as falsas notícias de hoje estão criando um problema de saúde pública

Por Wendel Lima, Revista Adventista


Até cem anos atrás, as doenças infantis infecciosas, hoje controladas ou erradicadas pelas vacinas, matavam 20% das nossas crianças. Alguns acreditam que esse sucesso dos imunizantes acabou se voltando contra a própria reputação das vacinas. Pelo fato de as últimas gerações terem crescido sem saber o que é um surto de sarampo ou epidemia de poliomielite ou meningite, acabam tendo uma baixa percepção sobre o risco dessas doenças. Segundo a OMS, cerca de 3 milhões de vidas são salvas anualmente por causa da imunização. Porém, doenças preveníveis, como o sarampo, estão retornando. Saiba por quê.

Motivações

Alguns não tomam vacinas por motivos filosóficos, como os antroposóficos e adeptos de linhas que defendem certo retorno ao natural. Nas grandes religiões, a restrição à assistência médica ocorre apenas em grupos específicos, como os membros da Ciência Cristã e os amish norte-americanos, no cristianismo; os haredi burqa, no judaísmo; e em segmentos do islamismo que têm proibido a aplicação de certas vacinas no Afeganistão, Paquistão e Nigéria. Contudo, as principais razões para a resistência às vacinas são o medo e a desinformação.

Estudo fraudulento

A desconfiança contra as vacinas ganhou força nos últimos 20 anos, depois que o médico britânico Andrew Wakefield publicou um artigo na prestigiada revista acadêmica The Lancet, em 1998, em que associou a vacina tríplice viral ao autismo. Meses depois, o mesmo periódico publicou artigos que refutaram a tese de Wakefield. Em 2004, os editores da The Lancet chegaram a reconhecer que não deveriam ter divulgado aquele artigo. O caso, conhecido como uma das maiores fraudes da história da medicina, demorou oito anos para ser finalmente desmascarado pelo jornalista investigativo Brian Deer. Ainda assim, o mito permanece e o estudo de Wakefield é utilizado como argumento por muitos antivacinistas.

Segurança

São necessários de oito a 12 anos para se colocar uma vacina no mercado. Isso porque é realizado um processo rigoroso com testes em cultura de células, animais roedores e não roedores, para só depois ter uma aplicação supervisionada, ao longo de quatro fases, em seres humanos.

Portanto, os riscos de reações adversas, como febre alta e dores, são pequenos e muito menores do que os das sequelas de uma doença infecciosa.

Obrigatoriedade

Em países como Itália e os Estados Unidos, os movimentos antivacinistas ganharam força e questionam se a liberdade individual não deveria estar acima da coletiva. Porém, especialistas alertam para o chamado efeito de “imunidade de rebanho”, ou seja, ter a maior parte de uma população imunizada faz com que o vírus ou bactéria não circule, protegendo assim as pessoas que, por questões de saúde ou idade, não podem ser vacinadas. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) obriga os pais a imunizar seus filhos. Portanto, vacinação vai além de escolha pessoal; é uma questão de saúde pública e responsabilidade social.


WENDEL LIMA é editor associado da Revista Adventista

Fontes

Ed Wilson Santos, doutor em Fisiopatologia e Toxicologia pela USP (Revista Vida e Saúde, maio de 2019, p. 8-14); Natalia Pasternak Taschner, pós-doutora em Microbiologia pela USP (youtube.com/casadosaber); e Guido Carlos Levi, infectologista com doutorado em Medicina pela Unicamp (youtube.com/pesquisafapesp)

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