Quando foi a última vez que você realizou exames de rotina e passou em um clínico geral de forma preventiva?
Por Virgílio Ferreira, Revista Vida e Saúde
Quando pensamos na saúde do homem, o tema câncer de próstata domina a mídia, porém há uma série de outras necessidades e demandas importantes. E a saúde do homem idoso, como anda? Diria que precisa melhorar. Os dados demográficos nos ajudam a responder essa questão. Já é bem conhecido que o envelhecimento é um fenômeno essencialmente feminino, ou seja, as mulheres vivem mais que os homens. A partir daí surge a constatação de que as mulheres se preocupam mais com sua saúde, procurando não só tratar a tempo seus problemas, mas se cuidando antes que estes problemas surjam. Basta ir a qualquer posto de saúde ou consultório privado e você notará que a maioria das pessoas ali são mulheres.
A retórica masculina de que mulher sofre com mais doenças e que, por isso, vai mais ao médico não condiz com a realidade. Na verdade, o homem está muito mais exposto a diversos fatores de risco que ajudam a explicar essa maior mortalidade. O homem ainda fuma mais, ingere mais bebida alcoólica, morre mais por doenças cardiovasculares e também está no topo das estatísticas de morte por homicídios, acidentes de trânsito, de trabalho e câncer. O resultado disso é que o número de homens em comparação com as mulheres, entre pessoas com mais de 60 anos, vem reduzindo progressivamente.
A grande dificuldade dos sistemas de saúde em transformar essa realidade está nas diferenças de aspectos social e cultural existentes entre homens e mulheres. O mito da invulnerabilidade, da potência, do super-homem prejudica muito o autocuidado do homem. São valores aprendidos e incorporados que impedem o homem de adotar condutas mais saudáveis e preventivas. Nesse sentido, ter uma mulher atenta ao lado é um fator que pode influenciar positivamente.
A relação do homem com o trabalho também resulta em grande dificuldade de ele organizar o tempo para cuidar da saúde. A pergunta que faço a você homem que trabalha é: Quando foi a última vez que realizou exames de rotina e passou em um clínico geral de forma preventiva? Numa fase mais tardia da vida, com a aposentadoria, seria momento propício para esses cuidados. Porém, muitos se entregam ao sedentarismo, alcoolismo, ganham peso e se deprimem. A verdade é que, se essa cultura preventiva não teve início na vida adulta, dificilmente ela virá na terceira idade. Tudo isso colabora para um envelhecimento com pior qualidade de vida, acarretando uma fragilidade que chegará mais precocemente.
Mais uma vez a solução está na educação, na conscientização de que estamos ou não construindo uma velhice ativa e cheia de propósitos, ou estamos assistindo, de forma alheia, a um processo interno de autodestruição, em que o tempo cobra seu preço. Então, sejamos mais sábios, façamos boas escolhas para que tenhamos saúde plena, não só
física, mas psíquica e espiritual.
VIRGÍLIO FERREIRA é médico geriatra
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