Temido e evitado por muitos por conta da associação com casos de câncer de pele, o sol continua sendo, contudo, a principal fonte de uma substância vital para o ser humano, a vitamina D, necessária para todas as idades.

Mas para compreender a importância dos raios solares para a saúde das pessoas é necessário saber que papel a vitamina D (para ser mais exato não se trata de uma vitamina, mas de um hormônio) exerce no organismo. E aí entra uma lista que cada vez mais vem sendo ampliada por conta das descobertas recentes da medicina. Há cerca de 10 anos, a vitamina D era vista principalmente como uma substância fundamental para o fortalecimento dos ossos. Desde então, novas descobertas confirmaram que os benefícios vão muito além. O endocrinologista americano Michael Holick é um dos estudiosos do assunto. Professor da Universidade de Boston e autor do livro “Vitamina D – Como um Tratamento Tão Simples Pode Reverter Doenças Tão Importantes”, Holick foi o primeiro a identificar os mecanismos pelos quais esse componente faz bem à saúde. Na edição da revista Veja de 16 de janeiro deste ano, Holick foi um dos especialistas consultados para a reportagem de capa “Um lugar ao Sol para a vitamina D”. Conforme disse o médico à revista, “direta ou indiretamente, a D está relacionada à pelo menos 2 000 genes, o que comprova a sua vasta gama de benefícios”.

E que outros benefícios seriam estes? O nefrologista e clínico geral Hélnio Nogueira (CRM-PR 3377 / RQE 299) explica que vários estudos evidenciam que níveis normais de vitamina D protegem contra diversos tipos de câncer, além de reduzir a incidência de um número elevado de outras doenças, a exemplo de diabetes, aterosclerose e esclerose múltipla. “Talvez proteja até mesmo dos cânceres de pele, desde que o uso do sol seja moderado”, acrescenta o diretor médico da Clínica Adventista de Curitiba.

O cardiologista Cleverson Zukowski (CRM-PR 29299 / RQE 1791), da Clínica Adventista de Curitiba, acrescenta que o sol também promove uma série de ações benéficas ao sistema cardiovascular. “Nos vasos sanguíneos, promove a liberação de fatores de relaxamento destes vasos, diminuindo a chance de ocorrência de um derrame ou um infarto. Nos rins, a vitamina D reduz a produção de renina, uma substância que é fabricada em excesso nos hipertensos e que tem um efeito deletério de promover contração excessiva dos vasos sanguíneos. Desta maneira, a vitamina D atua reduzindo a pressão arterial nos hipertensos. No coração, ela regula o processo de contração e relaxa- mento do músculo cardíaco”, informa.

Embora a exposição da pele ao sol seja a melhor forma de produzir essa substância vital para o ser humano, nem todos podem depender exclusivamente dele para usufruir dos benefícios da D. “Quanto mais distante do Equador, quanto mais nublados os dias ao longo do ano, quanto mais escura a pele, quanto mais velha é a pessoa, quanto mais obesa, quanto mais roupa ou protetor solar a pessoa usa, menos a pele produz vitamina D”, esclarece Helnio Nogueira. É aí que entram a dieta e as suplementações por meio de cápsulas – embora caiba ressaltar que ainda não há evidências sólidas da eficácia desses suplementos, a não ser para o tratamento da osteoporose, segundo aponta Nogueira.

E, no Brasil, esse caminho alternativo é mais comum do que se imagina. Isso porque mesmo com a abundância de sol na maioria das regiões, a população enfrenta sérios problemas com falta de vitamina D. Segundo mensuraram estudos do Grupo de Doenças Osteometabólicas da EscolaPaulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo, cerca de 50% da população com menos de 50 anos apresenta deficiência da vitamina.

É o caso da enfermeira Suelen Balero de Paula, de 25 anos. Ao fazer um check-up em dezembro do ano passado, os exames de angue apontaram um baixo índice da vitamina para a sua idade. A recomendação médica foi que ela buscasse, então, uma suplementação. “Terminei o mestrado e comecei a dar aulas e o médico acredita que foi porque nesse período eu não tive férias e nem me expus ao sol”, explica.

Hoje o que ela procura fazer também é se expor mais ao sol durante os finais de semana e nos intervalos do trabalho no campus da faculdade onde atua como professora, o IAP (Instituto Adventista Paranaense), no norte do estado.

Grande parte da população, entretanto, ainda tem dúvidas sobre qual o melhor horário de exposição à energia solar para que a vitamina D seja melhor assimilada pelo corpo. E as respostas dadas por alguns estudos indicam que o melhor período é o que vai do meio-dia às duas da tarde. Justamente aquele horário temido e por isso não recomendado pela maioria dos dermatologistas. “Tomar 20 minutos de sol, no corpo inteiro, durante o verão, em torno do meio-dia, uma vez a cada 20 dias, é suficiente. Outra opção é tomar dez minutos de sol, nos braços e no rosto, nos dias de sol, ao longo do ano. Tudo isso, é claro, sem protetor solar”, afirma o médico Helnio Nogueira. Mas é preciso tratar o assunto com cautela. Embora alguns especialistas defendam que não há estudos que comprovem que a exposição moderada ao sol sem proteção provoque câncer, é consenso que banho de sol sem proteção para aqueles que tem câncer ou histórico da doença na família, por exemplo, é proibidíssimo.

Os efeitos maléficos do sol sobre a pele, como o envelhecimento precoce e o câncer de pele, são sérios e perigosos. Mas um dos fatores que determinam se esses efeitos vão aparecer é o número de horas que você tomou sol, sem proteção, ao longo da vida. Assim, se sol demais causa câncer e sol de menos produz deficiência de vitamina D, a conclusão é que, como sempre, a sabe- doria está no equilíbrio. [Reportagem: Márcio Tonetti]

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