Esses são sinais claros de quem está dormindo pouco, sintomas que acompanham a vida moderna. Dormir cedo e acordar de madrugada, como nossos avós faziam, hoje é até motivo de piada para uma geração acostumada a não desligar nunca.

Uma pesquisa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) com um grupo de 700 jovens entre 17 e 25 anos revelou que 60% não dormiam bem e 70% deles usavam o computador das 19h30 à meia noite. O uso do computador, ou de outros aparelhos eletrônicos, à noite, faz com que o sono demore ainda mais para vir. A sensação é bem diferente, por exemplo, da que temos quando pegamos um livro para ler e, quando menos esperamos, caímos no sono. No caso dos eletrônicos, com a luminosidade da tela próxima da pessoa, o cérebro recebe mensagens que retardam a produção da melatonina, hormônio responsável pela indução do sono. Por isso é tão importante ficar no escuro.

Aliás, a falta de condições favoráveis para dormir bem é um dos problemas que podem prejudicar o repouso de quem troca o noite pelo dia. Nem sempre quem dorme no período diurno consegue repousar num ambiente que obstrua totalmente a entrada de luz (e os barulhos), tornando o sono superficial e a produção de melatonina irrelugar.

O paraibano Gilvan Batista de Araújo, de 42 anos, hoje morador em Curitiba, precisou inverter os turnos por conta do trabalho. Ele é autônomo, atuante na área de vigilância de residências e estabelecimentos comerciais, e, mesmo sendo seu próprio chefe, mantém uma rotina rígida de trabalho: sai de casa às 22h00 e retorna por volta das 04h30. Seu período de sono costuma ser das 05h00 às 10h00, por vezes se estendendo até o meio dia. Depois da academia, no período da tarde, ele diz que dá tempo de tirar mais um cochilo. Mas dormir durante o dia, garante, não é a mesma coisa.  “À noite está todo mundo dormindo, mas de dia é bem diferente. É aquela barulheira na rua, nos vizinhos, e até dentro de casa, o que atrapalha bastante o sono da gente”, relata. Por conta do desgaste físico, Gilvan afirma que já chegou a dormir quando dirigia a moto, correndo risco de acidente. “Isso já aconteceu várias vezes. Graças a Deus nunca houve nada grave, mas pela falta de sono já andei perto de me acidentar”, observa.

Um bom sono pode evitar sim muitos acidentes de trabalho. Mas os benefícios não param por aí. O médico Attilio Melluso Filho (CRM-PR 3810) explica que o organismo vira um verdadeiro laboratório quando o indivíduo está dormindo e consegue atingir as fases mais profundas do sono. “O organismo relaxa, favorecendo a produção de diversos hormônios e enzimas. Todas as glândulas do corpo começam a trabalhar em sinergia. O pâncreas produz a insulina, a supra-renal o cortisol, são produzidos também os glóbulos vermelhos, hormônios da tireóide e assim por diante”, elucida.

Há muitas e boas razões para se prezar pelo descanso noturno. Melhorar a capacidade de concentração e raciocínio é uma delas. Muitos daqueles que dormem pouco o fazem com a justificativa de que precisam produzir mais. Mas o efeito geralmente é contrário, pois o desgaste mental acaba levando à improdutividade. Segundo lembra Melluso, é na fase REM, aquela em que sonhamos, que a habilidade de solucionar questões que exigem a criatividade é melhorada em até 40%.

Outro convite para passar mais tempo de olhos fechados é a capacidade de prevenir doenças como o diabetes, derrames cerebrais e problemas cardiovasculares. “Há casos de pessoas que tem hipertensão arterial e que regularizam a pressão dormindo bem”, acrescenta Attilio Melluso Filho.

Na medida certa

 As pesquisas também tem mostrado que dormir bem pode até mesmo ajudar a manter um peso saudável. Portanto, se você anda brigando com o travesseiro todas as noites é muito provável que irá lutar também contra a balança. Isso acontece porque a privação do sono provoca queda na produção de uma substância chamada leptina, o hormônio da saciedade, levando a pessoa a exagerar nas refeições.

Mas é importante lembrar que o caminho para um sono reparador depende de preparo. Essas medidas preparatórias envolvem desde a abstenção de cafeína e produtos a base de cola até evitar “cochilos” muito prolongados durante o dia, conforme explica a médica Karin Dal Vesco (CRM-PR 15800), do Instituto do Sono de Curitiba. Ela lembra ainda da necessidade de o indivíduo criar um clima favorável, desligando a TV, o computador e até o celular.

“Outra atitude importante é ter um horário rígido de acordar e levantar. Dessa forma, o corpo entende que precisa ligar e desligar novamente. Evitar coisas que gerem adrenalina também são necessárias. O nosso corpo precisa de preparo e respeito”, acrescenta a médica.

Então, em respeito à sua saúde e ao seu sono, apague as luzes, vá para a cama e prepare-se para bons sonhos. [Reportagem: Márcio Tonetti / Com colaboração de Fabiana Bertotti e Willian Vieira]

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