Por Caroline Mota, Revista Vida e Saúde


Vivemos em um contexto de alerta diante da pandemia do coronavírus. Neste cenário, sentimentos de medo e ansiedade são muito comuns, gerados especialmente por pressões sociais, indefinições e incertezas diante da adoção de medidas sanitárias e epidemiológicas que precisam ser tomadas para retardar o avanço da COVID-19.

Devemos considerar, enquanto sociedade, que a saúde mental das pessoas é um aspecto importante que não pode ser negligenciado, e deve ser discutido e debatido de forma ampla nestes tempos de crise.

Ainda existem poucos estudos relacionados ao levantamento de informações sobre os principais problemas em termos de saúde mental que podem ocorrer em contextos de confinamento e isolamento social. Um estudo conduzido por Brooks e colaboradores (2020), da King’s College London (avaliada como uma das dez universidades mais conceituadas do mundo) aponta para alguns fatores de estresse que podem estar associados ao fenômeno do confinamento. De forma específica, esse estudo fez uma revisão bibliográfica de 24 artigos científicos publicados mundialmente, que estavam relacionados a contextos de emergência e isolamento social. Os resultados mais importantes apontados nesse artigo alertavam para a ocorrência de sintomas de estresse pós-traumático, confusão e raiva, tendo como estressores em potencial o medo da infecção, sentimentos de frustração e tédio, perdas financeiras e desinformação e/ou informações confusas.

A partir do levantamento desses impactos psicológicos, uma preocupação importante se coloca: como identificar pensamentos, comportamentos e emoções disfuncionais que já poderiam estar próximos à ocorrência de problemas de saúde mental? A resposta mais imediata para essa questão passa pela consideração de dois fatores principais: (1) a frequência de ocorrência desses sintomas e (2) o grau de prejuízo que eles geram na vida cotidiana do indivíduo, prejudicando seu bem-estar, a qualidade de vida e os relacionamentos sociais.

Para o manejo desses sentimentos, pensamentos e comportamentos disfuncionais associados ao isolamento social imposto pelo cenário de propagação da infecção do coronavírus, seguem algumas orientações práticas para melhorar o enfrentamento em termos de saúde mental relacionados à pandemia:

1. Pense sobre o que você está sentindo e tente reconhecer as emoções disfuncionais que está experimentando. Nesse ponto é importante entender que se sentir confuso, irritado ou ansioso é normal, mas quando esses sentimentos tomam conta do seu dia e prejudicam seus relacionamentos com familiares, amigos ou colegas de trabalho, já pode ser um sinal de alerta!

2. Busque pessoas de confiança com quem você possa compartilhar o que sente e pensa. Converse com essas pessoas de forma específica sobre o que lhe incomoda.

3. Questione de forma crítica as informações que você tem acessado. Cheque a fonte dessas informações, selecionando aquilo que você lê e, principalmente, faça uma relação funcional produtiva dessa informação com sua própria vida. Perguntas do tipo: “De que forma essa informação está me ajudando?”, ou “Como fazer para melhorar diante de todo esse conteúdo que estou vendo?” são ferramentas importantes para o enfrentamento de condições de mal-estar.

4. Não amplifique nem compartilhe informações que geram alarme desnecessário. Entenda que a COVID-19 não é só um fenômeno de saúde pública, mas também um fenômeno social, que envolve relações de comunicação que podem causar prejuízos, se as informações forem consumidas de forma distorcida ou em excesso.

5. Desenvolva a autorresponsabilidade. Entenda que você pode se sentir mal diante de todo esse contexto; que você tem o direito e pode falar sobre isso, mas, acima de tudo, comprometa-se consigo mesmo em ter uma atitude responsável, aderindo às recomendações públicas de saúde e de vigilância epidemiológica.

6. Cuide de si e de sua rede de apoio. Desenvolva atitudes positivas e de confiança, ocupando o tempo livre com atividades produtivas, prazerosas e que fortaleçam seus vínculos de afeto, compreendendo que esse cenário é passageiro.


CAROLINE MOTA BRANCO SALLES é psicóloga, doutora em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde (Universidade de Brasília) e docente do Centro Universitário IESB

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