Não se deve assumir as consequências das más escolhas que o dependente faz

Por Cesar Vasconcellos de Souza, Revista Vida e Saúde


Codependência afetiva é um jeito de a pessoa funcionar que permite que o comportamento de outra pessoa a afete, e que tem obsessão por controlar o comportamento de terceiros.

Codependentes têm grande tendência para se envolver em relacionamentos com pessoas não confiáveis, emocionalmente indisponíveis ou carentes, tentando prover e controlar tudo dentro do relacionamento com pessoas assim, sem focalizar suas próprias necessidades ou desejos, criando para elas mesmas uma contínua falta de satisfação e significado. Geralmente se sentem responsáveis pela felicidade, pelos sentimentos, ações, escolhas e comportamentos dos outros. Dizem frequentemente “sim” aos pedidos, quando queriam dizer “não”.

(…)

Codependentes acreditam que os outros os fazem “enlouquecer” e se sentem raivosos e não apreciados por tudo o que eles estão tentando fazer. Possuem pobres habilidades de comunicação. Raramente dizem o que querem dizer e tentam dizer o que acreditam que as pessoas querem ouvir. Desfrutam falar sobre outras pessoas e raramente falam sobre si mesmos. Têm dificuldade de ser assertivos e com frequência iniciam uma conversa pedindo desculpas por chatear as pessoas. Costumam ser muito leais e permanecem em relacionamentos danosos para eles por tempo muito longo. Tentam convencer outros sobre o que “deveriam” pensar e como deveriam “verdadeiramente” sentir.

Há pessoas que vivem com um dependente químico e atuam num papel de “salvador”. Elas revelam certo tipo de vício também, que é o vício de controlar a vida de outra pessoa, geralmente do dependente químico. A droga do dependente químico pode ser o álcool, a cocaína, a maconha, etc.; e a droga do familiar pode ser o controle que tenta exercer sobre o viciado na substância.

O codependente geralmente deixa que o comportamento de outra pessoa o afete demais. Gasta um tempo exagerado preocupando-se com problemas das outras pessoas e tenta resolver as confusões criadas pelo dependente químico, ou fica com uma raiva imensa dele porque ele criou uma situação complicada que o codependente se sente na obrigação de resolver. Mas é importante pensar que não é para ele resolver! Existem 3 Cs que podem ajudar o codependente: (1) eu não Causei isto – a dependência química ou as complicações dela; (2) eu não posso Controlar isto – as atitudes do dependente químico, e (3) eu não posso Curá-lo – curar o dependente químico. Ou seja, o codependente não deve assumir as consequências das besteiras que o dependente químico (ou a pessoa com outro problema) faz.

O que o codependente deve fazer para ter saúde emocional? Esforçar-se para deixar de controlar a vida do outro e começar a cuidar da sua. Deve crer que tem o direito de ter alívio do sofrimento que tem tido na convivência com um viciado.

Se você pensa que se encaixa no perfil de uma pessoa codependente, não conclua que seu caso é sem solução, que não tem jeito. Existe esperança de mudança se você decidir enfrentar o medo de ser alguém que tem direito de falar, de expressar suas ideias, colocar limites, dizer “não”, pedir coisas. Tenha esperança e tome uma atitude para mudar a si mesmo, deixando de lado os excessos de codependência. Alguns não gostarão disso. Mas é a sua vida que está em jogo. E ela é sua. Foi-lhe dada por Deus. Você tem o direito de vivê-la, e bem.


CESAR VASCONCELLOS DE SOUZA é médico psiquiatra e apresentador do quadro ClaraMente no programa Vida e Saúde, da TV Novo Tempo

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